As previsões para o ouro estão se tornando cada vez mais impressionantes em todos os sentidos, com analistas praticamente competindo entre si para estimar até onde o metal precioso pode chegar. A crescente instabilidade geopolítica e a política tarifária do presidente Donald Trump têm alimentado esse cenário. Em meio a esse ambiente incerto, o metal amarelo vem se consolidando como o último refúgio confiável para muitos investidores.
De acordo com James Steel, estrategista cambial do HSBC, a imposição de novas tarifas por Washington contra seus parceiros comerciais desencadeou a disparada do preço do ouro acima dos US$ 3.000 por onça. "Esta é a primeira vez, em anos recentes, que a geopolítica e a incerteza econômica se tornaram os principais motores do mercado de ouro", destaca o especialista.
Na semana passada, o preço do ouro à vista atingiu uma máxima histórica de US$ 3.167,57 por onça troy. Com isso, o metal acumula uma valorização de 16% desde o início de 2025. Para efeito de comparação, o ouro registrou alta de 27% em 2024. A flexibilização da política monetária e as preocupações com os déficits fiscais também contribuíram para o aumento dos investimentos no metal no ano passado.
O cenário atual continua favorecendo o ouro. Diante desse contexto, analistas preveem um crescimento sem precedentes. Como o metal tem uma correlação inversa com os fluxos comerciais, ele tende a se beneficiar independentemente da direção tomada pela economia. A postura tarifária de Trump — com as maiores barreiras comerciais decretadas por Washington em um século — levou muitos investidores a migrarem para o ouro, impulsionados pelo temor de uma guerra comercial em larga escala.
O ouro já superou o dólar norte-americano em popularidade entre os ativos de proteção, impulsionado em parte pela prolongada fraqueza da moeda americana. Além disso, diversos analistas apontam que o status do dólar como principal moeda de reserva global está sendo enfraquecido pela persistente incerteza tarifária. Nesse ambiente, o ouro tem superado o desempenho do dólar. Os contratos futuros de ouro com vencimento em junho, negociados na bolsa Comex, subiram 1,6%, para US$ 3.022 por onça. Na quarta-feira, 9 de abril, o ouro era negociado a US$ 3.045 por onça troy.
A incerteza global e a volatilidade do mercado são um terreno fértil para o ouro
Trump contribuiu significativamente para o atual ambiente de instabilidade ao redesenhar a ordem global em apenas dois meses e meio de mandato. Ao sinalizar que os Estados Unidos não garantirão mais a segurança da Europa — papel que vinham desempenhando desde a Segunda Guerra Mundial —, a Casa Branca rompeu com décadas de política externa. Além disso, houve uma mudança radical na postura dos EUA em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia. O excêntrico bilionário chegou até mesmo a discutir seriamente a possibilidade de anexar a Groenlândia.
Diante desse cenário, os estrategistas cambiais do Deutsche Bank revisaram para cima suas projeções para o preço do ouro em 2025 e 2026, citando a incerteza geopolítica e comercial como fortes catalisadores da demanda por ativos de proteção. Segundo estimativas preliminares, o preço médio do ouro será de US$ 3.140 por onça em 2025 e de US$ 3.700 em 2026. As previsões anteriores eram de US$ 2.725 e US$ 2.900, respectivamente. Até o fim de 2025, os analistas do banco projetam que o ouro atingirá US$ 3.350 por onça. A previsão para 2026 é a mais otimista entre as principais instituições financeiras globais.
Outro fator que sustenta os preços do ouro é a forte demanda por parte dos bancos centrais. De acordo com o Deutsche Bank, essas instituições agora respondem por cerca de 24% da demanda global por ouro — um salto expressivo em relação aos menos de 10% registrados em 2022.
Muitos analistas seguem otimistas com relação às perspectivas de curto prazo para o metal precioso. Na semana passada, o HSBC elevou sua projeção para 2025 para US$ 3.015 por onça. No entanto, o banco adotou uma postura mais cautelosa para 2026, prevendo uma leve queda para US$ 2.915 por onça.
Já os estrategistas cambiais do Bank of America (BofA) também não esperam um movimento explosivo. Segundo Michael Widmer, analista da instituição, o ouro deve registrar média de US$ 3.063 por onça em 2025 e US$ 3.350 em 2026. Ainda assim, ele admite que os preços à vista podem chegar a US$ 3.500 por onça nos próximos dois anos.
"Comprar ouro a US$ 3.000 por onça é mais atrativo do que a US$ 3.500. Mas qual é o risco envolvido? É a possibilidade de voltarmos às condições de dois anos atrás — um ambiente global mais favorável, sem ameaça de guerras comerciais, e um Federal Reserve disposto a elevar as taxas de juros. Nesse cenário, a economia se estabilizaria, o sentimento nos mercados melhoraria e o comércio de ouro perderia força. Mas essa é uma hipótese fantasiosa", conclui Widmer.